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A escalada do Escola Sem Partido e a caça aos professores

Atualizada em 29/10/2018 16:10

Atualizado em 29/10, às 23h58

Ana Caroline Campagnolo, eleita deputada estadual pelo PSL com a bandeira do Escola Sem Partido, está incitando alunos a gravarem aulas e denunciarem seus professores. Em mensagem postada no facebook na noite de domingo (28) ela pede o envio das gravações e garante anonimato aos denunciantes. Em resposta a comentários na timeline, diz também que fotos não bastam e sugere o uso de gravador profissional para o áudio fique mais nítido.

A histeria burra de Ana Caroline ganhou eco em Juíz de Fora. Uma imagem está circulando nas redes sociais com o mesmo conteúdo: solicita o envio de gravações, nome e disciplina do professor e a escola onde leciona.

Uma das mais ferozes defensoras do Escola Sem Partido, Ana Caroline chegou a processar sua ex-orientadora no mestrado , profa. Marlene de Fáveri, da Universidade do Estado de Santa Catarina, por “perseguição ideológica e discriminação religiosa”. A ação foi considerada improcedente e a professora Fáveri agora entrou com queixa-crime contra Ana Caroline por calúnia e difamação.

Segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo (25/10), a professora Faveri desistiu de orientá-la por incompatibilidade “teórico-metodológica”. Ana Caroline passou ainda por outros dois orientadores, defendeu a dissertação em maio de 2016 , mas acabou reprovada pela banca.

Denuncismo apadrinhado

A caça aos professores tem um padrinho.Nesta segunda-feira (29) voltou a circular nas redes sociais um vídeo em que Jair Bolsonaro ameaça uma professora com uma “surpresinha” e pede aos alunos: “vamos filmar e divulgar (...) o que esses professores ’entre aspas’ ficam fazendo na sala de aula”. O vídeo não está datado, mas aparenta ser recente, talvez de um pouco antes da facada.

A família Bolsonaro apoia abertamente o Escola Sem Partido, tanto o pai como os filhos. Flávio e Carlos Bolsonaro apresentaram projetos de lei do ESP, respectivamente, na Assembleia e na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Já, o pai, em seu programa de governo - no reduzidíssimo espaço dedicado à Educação - por duas vezes cita a “doutrinação” como um dos principais problemas (veja aqui). Ana Caroline foi eleita pelo partido de Bolsonaro.

Escalada da violência contra professores

A conjuntura favorece uma perigosa escalada do Escola Sem Partido, com uma onda de denuncismo e violência contra professores. Por isso, o departamento jurídico do SinproSP está estudando medidas para dar proteção contra professores que se sentirem ameaçados. A liberdade de ensinar e aprender é um direito garantido no artigo 206 da Constituição Federal.

Enquanto este artigo estava sendo preparado, duas notícias graves chegaram ao SinproSP: na UNB, professores cancelaram aulas depois de ameaças de atos convocados por apoiadores de Bolsonaro para uma "caça a comunistas" na Universidade. Na FEA-USP, o problema foi uma foto com três estudantes na sala de aula, com uma arma aparentemente de brinquedo e dizeres "a nova era está chegando"e "está com medo, petista safada?", o mesmo de um post no Facebook de um certo Salomão Campina. Apesar de ter sido retirado pelo autor, o post continua no perfil Paredão da Vergonha criado para denunciar absurdos como esse. Curiosamente, a expressão "nova era" também aparece no cartaz de Juiz de Fora (veja acima).

O Sindicato repudia o Escola Sem Partido e continuará atuando contra todas as iniciativas que possam constranger ou ameaçar os professores, inclusive manterá luta pelo arquivamento dos projetos de lei que restringem a liberdade de ensinar, censuram e punem os professores.

O presidente do SinproSP, Luiz Antonio Barbagli, também faz um alerta. Para ele, o avanço do Escola Sem Partido pode sinalizar um movimento de iniciativas que restringem outros direitos democráticos. “A censura e a perseguição podem começar na sala de aula e avançar para outros domínios, como a liberdade de manifestação, a Cultura, o acesso à informação etc.”, afirmou Barbagli.

Abaixo-assinado

Também na internet circula um abaixo-assinado em repúdio ao discurso de ódio de Ana Caroline . É uma das iniciativas importantes e necessárias contra o incitamento à violência e à intolerância, especialmente vindo de uma pessoa que vai atuar na Assembleia Legislativa. Sua manifestação é inaceitável e prova que ela não condições para assumir o cargo para a qual foi eleita.

Manual de defesa para professoras e professores
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