Educação

Desmonte no Inep revela gestão irresponsável e compromete o Enem

Atualizada em 08/11/2021 23:04

Atualização em 10 de novembro de 2021, às 9h02

A menos de duas semanas do Enem, 37 servidores do INEP já pediram exoneração dos cargos que ocupavam e saíram atirando. Acusam o atual presidente, Danilo Dupas Ribeiro, de assédio moral e de consumar o desmonte do órgão.

São servidores de carreira que ocupavam funções chaves no Enem, como planejamento, tecnologia e logística,  o que põe em risco a segurança do exame. Uma segurança que tem sido permanentemente ameaçada pelo MEC.

Segundo matéria da revista Veja, um policial federal, autorizado por um diretor do Inep, entrou na sala segura, onde a prova é elaborada, e passou a fazer perguntas e constranger servidores. O fato ocorreu no dia 02 de setembro.

Vale lembrar ainda da intenção manifestada pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro, de ter acesso prévio às provas do Enem para evitar “questões ideológicas ou subjetivas”. E a tentativa (fracassada) de criar uma “comissão” com poder de veto a questões consideradas ideológicas.

O MEC transformou-se num dos ministérios chaves da ala ultraconservadora do governo bolsonaro. A instrumentalização com fins ideológicos, a distribuição de diretorias sem critérios técnicos e a obsessão fundamentalista pela "pauta de costumes" têm provocado um verdadeiro desmonte do que vinha sendo construído, bem ou mal, desde meados dos anos 90.

Ministros de educação já foram quatro - um pior do que o outro. O Inep também já teve quatro pesidentes. O atual, Danilo Dupas, é um economista que ocupou funções administrativas no Mackenzie e vem daí a sua relação com o ministro Milton Ribeiro, que já foi reitor da Universidade.

Num ambiente em que a perseguição ideológia prevaleceu sobre as políticas educacionais, muitas diretorias acabaram acéfalas. Em 2019, por exemplo, a Diretoria de Avaliação da Educação Básica (Daeb) do Inep, responsável pela aplicação do Enem e do Saeb, entre outras avaliações, permaneceu sem titular durante cinco dos primeiros oito meses. Somente a dois meses das provas, o MEC escolheu o general da reserva Carlos Roberto Pinto de Souza para ser responsável por essa diretoria que deveria exigir profissionais especializados em Educação.

A debandada no Inep é mais um triste retrato de uma gestão irresponsável, que faz terra arrasada por onde passa. Em entrevista à Rádio Brasil Atual, o professor da Faculdade de Educação USP, Daniel Caras, considerou a situação inédita e gravíssima. Para ele, Dupas consuma o processo de desmonte que tem sido tentado pelo governo Bolsonaro desde o primeiro dia de seu mandato.Ee conclui dizendo que, desta vez, a segurança do Enem está seriamente ameaçada. Ouça abaixo.

Para ouvir:

Jornal Brasil Atual ,entrevista com Daniel Cara (08/11/2021)

Podcast O Assunto - O enem: retrocesso em série , entevista com Maria Inês Fini e Ana Carolina Moreno (10/11/2021)

 

Leia também: 

ENEM: Ministério Público pede esclarecimentos ao MEC sobre comissão de censura (SinproSP, 03/08/2021)

Após um ano, gestão Ribeiro no Mec é marcada por falhas e pauta ideológica  (Paulo Saldaña em Folha S. Paulo, 06/07/2021)

Governo quer comissão com poder de veto a questões do Enem (SinproSP, 22/06/2021)

Quebra de sigilo e censura:ministro da Educação quer ter acesso prévio ao Enem (SinproSP, 07/06/2021)

Órgão do INEP responsável pelo Enem será chefiado por general de reserva (SinproSP, 23/08/2019)

 

 

.